Confiança das micro e pequenas empresas volta a crescer após recuo recorde, mostra indicador SPC Brasil e CNDL
Crescimento faz com que confiança das empresas de varejo e serviços volte ao patamar do começo do ano. Ainda assim, 78% dos que sentiram piora nas vendas a atribuem à crise econômica
O Indicador de Confiança da Micro e Pequena Empresa (ICMPE) calculado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) registrou em maio um crescimento de 15,1% em relação a maio do ano passado e atingiu 42,19 pontos, acima também do observado no mesmo mês do ano anterior (36,65 pontos). O aumento, no entanto, ainda não pode ser considerado como uma tendência de melhora na confiança dos empresários ou um reflexo direto das mudanças políticas no Brasil, já que em abril o indicador caiu 12% na variação mensal e atingiu o menor patamar em sete meses, com 37,92 pontos. Assim, o resultado de maio retorna à média da série história do primeiro trimestre do ano. O dado de maio segue abaixo do nível neutro de 50 pontos, demonstrando que os empresários entrevistados continuam pessimistas com as condições econômicas do país e de seus negócios.
Para o presidente da CNDL, Honório Pinheiro, a economia brasileira em recessão e o aprofundamento da crise política têm afetado o ambiente de negócios dos micro e pequenos varejistas e dos prestadores de serviços. “Ao longo de 2016 e do ano passado, empresários e consumidores depararam-se com ambiente de grande incerteza com relação aos rumos da política e da economia e viram os impasses interditarem a agenda econômica, fazendo agravar o quadro recessivo”, explica Pinheiro.
O ICMPE é apurado mensalmente e composto pelo Indicador de Condições Gerais e pelo Indicador de Expectativas a partir das opiniões dos micro e pequenos empresários residentes nas 27 capitais e no interior.
78% dos que sentiram piora nas vendas a atribuem à crise econômica
O Indicador de Condições Gerais, que avalia a percepção do micro e pequeno empresariado sobre o desempenho de suas empresas e da economia brasileira nos últimos seis meses, retraiu, passando de 24,02 pontos em abril para 23,61 pontos em maio.
Em termos percentuais, 86,0% consideram que a economia piorou nos últimos seis meses, contra apenas 3,6% que consideram ter havido melhora. Em relação aos negócios, a proporção é um pouco menos distante: 61,1% relataram a piora dos negócios e 8,3% uma melhora, também nos últimos seis meses. “Desde o início da série histórica, os micro e pequenos empresários demostram mais pessimismo com a economia do que com os negócios, e o mesmo ocorreu em maio”, afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Para aqueles que consideram ter havido piora dos negócios, a crise econômica está na raiz das dificuldades: 78,1% dizem que, por causa dela, suas vendas diminuíram. Outros 11,9% mencionam o aumento do preço dos insumos e da matéria-prima sem que pudessem repassar para o consumidor.
“A queda das vendas e, por consequência do faturamento, é algo que se pode constatar atualmente. Dados do IBGE mostram que, em março de 2016, o volume de vendas do Comércio Varejista registrou queda de 5,7% na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Por sua vez, o setor de Serviços registrou recou de 5,9% na mesma base de comparação”, aponta Kawauti.
61% dos MPEs não preveem o crescimento das receitas
Considerando as expectativas sobre o faturamento da empresa nos próximos seis meses, 61,3% dos micro e pequenos empresários não preveem o crescimento das receitas. Mas há também quase um terço (32,3%) que acredita no crescimento das receitas. Entre esses empresários, a maioria relativa diz não saber os motivos, justificando com seu próprio otimismo. Outros 30,1% diz que está buscando novas estratégias de vendas e 14,7% justificam-se dizendo que estão diversificando seu portfólio e por isso esperam aumento do faturamento.
A percepção dos micro e pequenos empresários de como serão os próximos seis meses para a economia e para os seus negócios também foi analisada e apresentou crescimento. Em maio, o Indicador de Expectativas marcou 56,12 pontos, frente aos 48,36 pontos verificados em abril. Com o indicador acima do nível neutro de 50 pontos, a maior parte dos empresários está mais otimista com o ambiente de negócios no curto prazo.
Em termos percentuais, com relação ao desempenho da economia, 37,3% dos micro e pequenos empresários manifestaram confiança com os próximos seis meses e 33,8% manifestam pessimismo. Tratando-se dos negócios, o percentual de otimistas passa para 51,8% e o de pessimistas passa para 14,5%. “A melhora nos números da atividade econômica e, por consequência, do emprego, depende da consolidação da confiança que os empresários têm no futuro”, explica Marcela Kawauti.
MPEs otimistas com a economia: 36% não sabem explicar as razões
A maior parte dos empresários otimistas com a economia não sabe, porém, explicar suas razões: dizem apenas acreditar que as coisas irão acontecer (35,6%). Há também os que mencionam a resolução da crise política (33,9%), e os que acreditam que a inflação será controlada e o país retomará o crescimento (16,1%).
Entre os que manifestam otimismo com relação ao seu negócio, a razão predominante é a expectativa de que a economia irá melhorar, com recuo da inflação, aumento das vagas de emprego e das vendas (33,1%). Neste quesito, também uma boa parte não sabe explicar a razão de seu otimismo (32,4%). Outros 19,3% dizem estar investindo no negócio para enfrentar a crise.
Para 59% que estão pessimistas com economia, crise não será resolvida
Dentre os 33,8% que manifestam pessimismo com o desempenho da economia, 59,3% acreditam que a crise não será resolvida e 20,0% justificam-se dizendo que a crise econômica é grave. Outros 10,0% dizem que a inflação não será controlada e o país não retomará o crescimento.
Já entre os que manifestam pessimismo com os negócios (14,5%), 72,4% sustentam que não haverá recuperação econômica, a inflação irá aumentar e as vagas de emprego e vendas irão diminuir. Outros 12,1% dizem que seu negócio foi afetado demais pela crise e não tem como se recuperar.
Para a economista-chefe do SPC Brasil, essa falta de perspectiva tem efeito direto sobre os planos de expansão das empresas, que por sua vez afetam as estatísticas de emprego e atividade econômica, num ciclo vicioso. “Para rompê-lo, são necessárias sinalizações claras da parte do governo de combate à inflação, de reversão do crescimento desmedido dos gastos públicos e um compromisso com a estabilidade macroeconômica e com uma agenda de reformas, que incluam a redução da burocracia e democratize o acesso ao crédito”, conclui Kawauti.
Metodologia
O Indicador de Confiança do Micro e Pequeno Empresário (ICMPE) leva em consideração 800 empreendimentos do setor comércio varejista e serviços, com até 49 funcionários, nas 27 unidades da federação, incluindo capitais e interior. Quando o indicador vier abaixo de 50, indica que houve percepção de piora por parte dos empresários. A escala do indicador varia de zero a 100. As sondagens são realizadas nos 10 primeiros dias úteis de cada mês.